De Barriga Cheia
Dentro do cronograma de estágio pela manhã, tinha chegado a vez do grupo de Jorge. Mais antigo, ele tinha sob sua responsabilidade cinco subordinados, que junto consigo chegaram ao Centro Cirúrgico ao CEMAT, Central de Esterilização de Material do Hospital Marcílio Dias.
O grupo logo no primeiro dia, como observadores, assistiu a uma cirurgia gástrica em uma senhora de seus oitenta e oito anos e portadora de CA, o qual lutava havia anos. O cirurgião responsável, ao comentar o sucesso da operação, garantiu mais cinco ou seis anos de vida.
Depois de todo um ritual para sair das dependências do local, todos trocaram a roupa e se dirigiram ao Rancho. E comentavam sobre o que viram.
- Jorge, você viu como foi aquela cirurgia? Parecia coisa de televisão. Estou muito impressionado. Afinal, eu queria ser escrevente – falou Nestor, um dos componentes do grupo.
- Realmente, é marcante o que vimos – respondeu. Entre uma e outra garfada, com muito gosto, aproveitava Jorge a comida no fecha rancho. Além da bebida alcoólica era servido um filé aos medahões. Nestor, novamente, comentava com o mais antigo.
- Etá, picado malhado! Não dá nem vontade de comer – reclamou.
- Nestor, isso aqui é filé mignon! É um prato caro... se duvidar não faz nem visita, a quem é oficial todos os dias. Imagina a gente que vai se tornar cabo.
- Você là sabe de nada! É uma carne dura e sem gosto. Um negócio desse eu não compro nem para o meu cachorro... Dá até raiva passar por um Centro Cirúrgico e depois vir aqui pra comer. Eu vou é na lanchonete para ver se compro algo melhor!
Indignado, mas vendo a inutilidade da discussão, Jorge calou – se e comeu, calado – antes de se servir de outra etapa, falou ao campanha.
- Tem gente que reclama de barriga cheia e você se inclui entre eles, Nestor! Eu é que vou aproveitar e pegar mais um pouco, junto com este porto que está fora de série.
Moysés Severo
Enviado por Moysés Severo em 25/08/2021