A reclamação
Um dia desses fui à Escola de Aprendizes, na seção de inativos, para resolver um problema particular. Obedecendo à senha, eu aguardava ser atendido. Procurei conversar com um velha guarda que também estava à espera de ser chamado.
- Como o senhor se chama? – Perguntei já no intuito de bater um papo e aliviar o silêncio da seção.
- Duas coisas: me chamo Epitácio e outra o senhor está no céu. Pode me chamar de por este nome, fui suboficial, agora sou um civil.
- Tudo bem! O meu é Severo. Faz tempo que está na reserva?
- Sim, pouco mais de três anos. Os mais complicados de minha carreira.
- É mesmo, Epitácio? Que aconteceu?
O velha guarda disse – me que foi transferido da agência de Capitania dos Portos, depois de ter atritos com o tenente, mais antigo que comandava a OM à época. Como represália foi mandado de Aracati para o Quinto Distrito Naval no Rio Grande do Sul. Lá chegando ficou morando a bordo como crônico, porque a residência a ser cedida era ocupada por um suboficial mais antigo que ele, filho da terra e com uma casa própria da qual se beneficiava para alugar.
-Severo, isso foi um desastre e meu casamento de quinze anos, por muito pouco, não acabou. Não me adaptei ao clima, fiquei doente e chequei a ser hospitalizado sem a família para dar – me apoio; sem falar na saudade de meu filhos.
Diante do relato, quase que eu lhe lembrei que ninguém obrigou a se afastar, pois não era mais um boyzinho. O que ganhou com a movimentação foi o suficiente para viver bem e estava reclamando de barriga cheia. Mas, pelo lado humano, tentei consolá-lo ( coisa de minha profissão: a enfermagem!), no entanto, achava estaparfúrdia sua reclamação: a franqueza, nestas horas, só acenderia uma chama de despeito! Era a melhor solução. Escutar e ficar calado como uma pedra.
Moysés Severo
Enviado por Moysés Severo em 20/08/2021