O onceiro
Ele tinha desde que embarcou a fama de atrapalhado. Na faxina do Mestre, sempre ia bater ferrugem no costado, era rotina sua queda nas água da baía de Guanabara. Mas era gente boa, simpático e se mostrava prestativo, o que fazia conquistar o afeto dos companheiros de bordo.
Certa feita, após comissão de trinta dias, para levar uma turma de aprendizes em sua primeiro viagem de instrução. Foi orientação do comandante ao oficial de navegação que não deveriam se afastar muito do litoral. Alguns alunos sentiram o jogo do navio, no entanto, a maioria dos aprendizes não se queixou ou de ânsia de vômito ou de tontura.
A turma se animou, pois o Rebocador de Alto Mar Triunfo era um navio de pequeno porte, se fosse um grupo para uma embarcação maior, não sentiria nada. A prova maior seria com o Ary Pareiras, um navio transporte movido à caldeira.
Voltemos, então, aos aprendizes. Muitos boys ficaram encantados com a vida de bordo, com exceção dos futuros marinheiros que trabalhariam nas máquinas, contudo, repensaram e juraram bandeira.
Na ocasião em que falamos do nosso atrapalhado marinheiro, que fora apelidado de Kid Onça (onça dificuldade e onceiro marujo atrapalhado). Ao passear pelo navio, encontrou o cabo escrevente da Cruz batendo uma infinidade de documentos, a serem atualizados. O Kid o abordou.
-Posso te ajudar? Indagou, curioso.
-Sim Kid! Carimbe estes ofícios, por favor, enquanto concluo estes aqui.
Ao fim da tarefa, quando verificou o resultado. Os olhos marejavam e as lágrimas desceram: O marujo havia carimbado tudo de cabeça para baixo. Seria necessário fazer tudo de novo.
Moysés Severo
Enviado por Moysés Severo em 22/06/2021