Moysés Severo Prosa e Verso
Quando osol começa a brilhar, até o piorcego sabe que é dia.Frase preferida, slogan, frase de efeito
Textos
Uma conversa entre a barata e a borboleta
         Estavam a barata e a borboleta numa tapera no interior, num encontro casual, começaram a conversar.

          - Olá, dona Barata, como vai a senhora? – cumprimentou-lhe a borboleta com suas belíssimas asas, que refletiam brilhantemente uma réstia de sol que entrava pela janela e batia em cheio na mesa rústica, cheia de códeas de pão e restos de cuscuz, leite e açúcar, deixados pelos donos da casa depois do desjejum.

          A barata, que não perdia tempo, pois em breve eles voltariam, para limpar a sujeira, falou:

         - Estou bem, mas ocupada – respondeu friamente ao cumprimento de lepidóptero.

          
          - Posso saber o que a senhora está fazendo com tanta pressa? – indagou ingenuamente a borboleta, não percebendo que a barata lutava contra o tempo, procurando devorar o máximo possível de comida, antes de chegarem os donos da casa  com um pé de chinelo ou uma lata de inseticida para exterminá-la.

          - Não está vendo que estou comendo, ora bolas? Você tem cada pergunta! – retrucou impacientemente a barata, utilizando suas antenas para apreciar o cheiro das iguarias, antes de devorá-las sofregamente.

          - Não fique zangada, não! Só lhe pergunto, porque acho estranho esse seu jeito, todo inquieto e sorrateiro; mal dispõe de tempo para apreciar a comida!... – disse calmamente a borboleta, esticando as asinhas delicadas e coloridas.

          - Não tenho a sua folga! Aqui os donos da casa põem comida para você! Deixam banana ou, então, uma garapa para que se alimente...É bem vinda e todos apreciam sua beleza – disse a barata com um tom de inveja e pouco caso. E continuou seu discurso desdenhoso:

          - Você tem tudo na vida! Não é como eu que sou a escória. Vivo a me esconder e tenho que me virar para sobreviver, contando apenas com minha agilidade e resistência... Onde me veem querem me matar, sem dó nem piedade, como um  objeto imundo que deve ser eliminado.

          - Mas você traz doenças, dona Barata! Disse a ela a borboleta, tentando aplacar a fúria surda que a barata dava às palavras que proferia.

          - Quer o quê? Olhe onde me obrigam a ficar, no lixo, onde convivo com tudo que não presta. _ respondeu, indignada e já num tom ameaçador e furioso para com a borboleta. E prosseguiu seu discurso invejoso e cheio de rancor.

          - Se eu fosse admirada como você, se me dessem a oportunidade de mostrar como sou útil à natureza, tudo seria diferente... Mas sou tratada com nojo a asco, sem a menor chance de me defender!... Prejudico, porque sou prejudicada! É olho por olho, dente por dente. - retrucou a barata, já querendo encerrar o assunto rispidamente.

          
          - Mas que fazer se gostam de mim? Se me tratam com carinho e admiram minha beleza? Terei culpa de tal coisa? – indagou a borboleta num tom de conciliação que irritava a barata, querendo dizer que era tão vítima quanto ela.

          Nesse instante apareceu a dona da casa e com um grito de asco partiu com a chinela para a barata, buscando interceptar-lhe o voo, a fim de abatê-la. A borboleta suavemente  saiu voando e foi acomodar-se na janela, onde a esperava uma gota de mel, enquanto via a barata a custo e agilidade safar-se daquela situação.

MORAL: Sem oportunidade não se muda uma sociedade.


Moysés Severo
Enviado por Moysés Severo em 21/06/2013
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